8 de mar. de 2011

Nossa História

Tenho quase certeza que tudo começou com Lilith. Digo quase, porque você sabe estas coisas da Lua nunca podem ser muito exatas, apesar de um aparente ciclo perfeito de setes que se sucedem aos setes, numa linda espiral infinita, de repente já virou um oito. Por isso, posso afirmar que nestas coisas de Lua, todo o cuidado é pouco com afirmações exatas e concretas, pois seus caminhos são cheios de ondulações e curvas, e sua história está escrita no seu corpo, redonda como quadris, seios e coxas.
Por isso não posso afirmar com certeza que tudo começou com Lilith. Ou, talvez, pensando melhor, tudo tenha começado muito, muito tempo antes, e a idéia já brincasse no pensamento do Criador, nutrida no ventre da Mãe Eterna, antes de se tornar Verbo. E mal sabíamos que tudo já existia, antes mesmo de existirmos.

Mas seja como for, Lilith, também chamada a Lua Negra, queria retomar suas cores e nos impôs, arquetipicamente, a missão (que já nos pertencia atavicamente) de sermos porta-vozes da sua vontade: Ser resgatada do Mar Vermelho, com todos os direitos restituídos, inclusive o de estar plena de desejo, tão cheia de saliva e sangue, com todos os seus tons de vermelho, e fazer parte da inteireza de ser Lua; até mesmo do ser branca Lua menina, sem perder os privilégios da sua face oculta, a face negra, temida pelos que temem os mistérios. Mal sabendo eles, que o mistério maior está no fato de existir, produto alquímico de um ser que assa no forno do útero um novo ser. E aí está você (e eu)  o maior mistério da vida.
Louca Lilith, cansada de esperar que acordássemos para o que já estava pronto, se impôs, escolheu dançar um fado em Portugal e pensávamos nós, tolas que somos, que este era o começo. Apenas obedecíamos ao chamado, ao compromisso assumido, acordado em sangue, pelo simples fato que, como Lilith, somos Lua Mulher, e dissemos sim, achando que escolhíamos quando apenas obedecíamos.
Linda Lilith, hoje se desnuda e recebe a cada um que a procura aqui, e a cada um se mostra na cor do encontro único. E neste desnudar que tanto mostra, pouco se revela, pois a face negra lá está. Mas isso eu já tinha prevenido: são coisas da Lua.

                                                         Lídia Dantas










Tela: John Collier

4 comentários:

Anônimo disse...

Amei! O texto é lindo!

Roberta disse...

Adoro!

Raiblue disse...

Somos todos 'lunáticos'...rs...
Eu, particularmente , tenho profunda conexão com a lua...nasci num crepúsculo com a lua surgindo quase cheia no céu de inverno(junho)...
portanto sou bem' Lilith',rs, ao mesmo tempo que pareço transparente,
sou altmanete reservada, introspectiva demais...e tenho essas formas redondinhas também no corpo físico,rsrs...

Parabéns, amei o texto e as conexões feitas!!!!

Vou ficar viciada!!!rsrs
beijokas!
Rai

Anônimo disse...

Conheci essa Lua sem face negra, ilumine a sempre Pingo. Bj.